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quarta-feira, novembro 22, 2006

Os excluídos excluem o pingüim. Surpresa?

As estatísticas mostram que 73% de quem compra PC para Todos troca Linux pelo Windows em algumas semanas. E quase metade, 47%, por Windows pirata.

O que esses dados querem dizer? Em primeiro lugar, as estatísticas, é bom que se diga, foram encomendadas ao instituto de pesquisas Ipsos pela da ABES, a Associação Brasileira das Empresas de Software, parte interessada nesses números, por sua atuação antipirataria. Associações antipirataria têm tradição de apresentar dados mirabolantes sobre vendas hipotéticas de software e criação de empregos se não houvesse pirataria, aqui no Brasil e em qualquer parte do mundo.

Mas esses números estão longe de ser uma viagem da ABES. Expressam uma situação incômoda, que já se podia prever desde a criação do programa do PC Conectado pelo governo Lula. O programa, muito bem bolado, e com um efeito anabolizante fabuloso nas vendas de computadores no Brasil, deixou uma brecha aberta para a pirataria.

A brecha foi a exclusão do Windows e de software proprietário em geral do programa. Por que, caso se enquadrasse no teto do custo do PC para Todos, o Windows deveria ficar de fora? Eu não vejo razão. Acho que as pessoas, e não o Estado, devem decidir que sistema operacional devem usar. E se elas preferem Windows, por que devem ser excluídas de financiamento de PCs dos bancos oficiais?

A Microsoft, também é bom que se diga, não ajudou nessa história. Sua oferta para os excluídos é o Windows Starter Edition, um sistema operacional tolhido em várias dimensões. Com ele na máquina, não dá para usar rede, não dá para usar mais de três programas de uma vez, não dá para colocar resolução maior que 1024 por 768 no monitor, não dá para colocar memória realmente decente. Acho que, com essas restrições, a Microsoft oferece um pacote pouco atraente e dá um tiro no próprio pé.

Agora vamos ao Linux que está sendo colocado no PC para Todos. O custo do suporte técnico ao usuário iniciante, todo mundo sabe, pode ser enorme e transformar uma operação com margem de lucro mínima, como a fabricação de um PC básico, num mar de vermelho. Os fabricantes do PC para Todos buscam, em primeiro lugar, resolver esse problema. Quem ganha a parada aí oferecendo suporte barato aos novatos digitais leva o direito de ver sua distribuição de Linux instalada nos computadores desses fabricantes. E adivinha? Essas distribuições nem sempre são das mais amigáveis – estão longe de ser um Ubuntu, esse sim um Linux com chances de ser entendido pelo cidadão leigo.

Está formada, aí, a teia que leva à pirataria. Ou alguém iria esperar que os excluídos digitalmente, depois de se desencantar com uma distribuição hermética de Linux, fossem à Kalunga pagar 469 reais por um Windows XP Home?

Bem, mas os dados divulgados hoje pela ABES não são apenas desanimadores. Eles mostram também no que o governo acertou com o PC para Todos. O foco - a população mais pobre - foi atingido. Setenta por cento das 502 pessoas ouvidas pelo Ipsos são das classes C e D. E 86% delas comprou, com o programa, o seu primeiro computador. Desses dados, ninguém pode reclamar.


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